Arte-vida, arte-vômito: deglutição do real como totalidade. (Mário Jorge)

Monday, August 06, 2007

A respeito de K.


Afinal de contas, quem é K.? Difícil responder tal pergunta. K., para não ser ninguém, é preciso que seja todos. A situação de K. é daquele sujeito que já se perdeu, que se encontra fora de si e fora do mundo. É possível encontrar em K. a experiência do sujeito moderno, alienado de si mesmo, no entanto, tal alienação em K. tem caráter de uma realidade própria de sua não-vida. K. experiencia o Fora. Não no sentido de vivenciar um mundo além do nosso, mas vive precisamente neste, mas desdobrado em uma outra versão.

K. é o protótipo de uma época histórica onde a os homens se debatem com um poder anônimo e que desfila em qualquer lugar. Penetra nas inter-relações humanas – na figura de Frieda e Amália, ambas com decisões distintas todavia provocadas e influenciadas diretamente pelo poder d’O Castelo. No íntimo de K. – em seus ciúmes doentios e sua frustração por essas duas figuras. Adentra ferozmente equânime na impossibilidade de se compreender as autoridades, não porque não há o que compreender; mas porque não há como compreender a ofensiva ininterrupta e inexorável do poder nas pessoas.

K. mostra o abuso de poder na existência própria do poder. Não como algo que lhe é estranho, mas constituinte, fundamento. K. ainda se faz ouvir porque a espera ainda existe. A K. não foi só impossibilitado uma permanência tranqüila na aldeia, mas também a formação de uma família, a manutenção de si num lugar fixo sem interferências. O desejo de K. para falar com Klamm hoje é bastante verossímil, mostra a impossibilidade da comunicação entre o poder e uma sociedade.

Como Olga lhe disse, ainda hoje perdura: lá no Castelo sempre se é observado, ao menos está é a crença que se tem.

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