Em certa manhã Joseph K. acorda detido. Para dificultar sua compreensão da situação em que se encontra, o fato de ele está detido não o impede de que ele cumpra suas obrigações. Este estado permanente de vigília não é só próprio à literatura de Kafka, mas também ao próprio mundo tal qual se conhece atualmente. Há infinitas possíveis interpretações de ambos os anti-heróis. No entanto, por mais variadas que sejam, terão de se fundar por aquilo que de fato acomete o sujeito kafkiano: a constante presença de um representante de uma ordem do mundo fundada sobre a mentira. Lugar em que a mentira não é suprimida nem pelo seu contrário, toda tentativa isolada de opor a verdade à mentira está condenada ao fracasso. A única saída, se há saída, é a abolição deste mundo por um diferente. Trata-se de um certo tipo de redenção peculiar submergida no universo sufocante do arbítrio burocrático.
Aquele que Joseph K. olha atentamente enquanto seu coração era atravessado por uma faca não era um amigo, nem uma criatura bondosa, como conjeturou Joseph. Aquele, cuja inércia provocou a última dúvida de Joseph K., era o homem incapaz de levantar-se contra uma injustiça em sua frente, um homem incapaz de reconhecer-se no outro, a quem já não é possibilitado a possibilidade da transformação. Se há esperança, não era para Joseph K.
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