Arte-vida, arte-vômito: deglutição do real como totalidade. (Mário Jorge)

Saturday, January 03, 2009

O fatídico fim da ONU.










Marx certa vez disse, corrigindo um outro filósofo, que a história se repete, mas a primeira vez, sim, como tragédia, já a segunda, por sua vez, como farsa. Talvez não haja melhor ponto de vista introdutório para entender o que se passa no Oriente Médio e a ofensiva israelense. Uma vez que os judeus passaram de oprimidos por uma máquina de guerra estatal totalitária [nazismo] para opressores que usam uma máquina tecnológica total-democrática de uma forma bem parecida. Embora essa mudança seja mais uma farsa do que uma tragédia. Os motivos do nazismo eram trágicos: a produção e constituição de uma nação pura. As motivações de Israel são uma farsa: demonstração do poder bélico diante de uma resistência frágil e uma soberba totalitária com relação a qualquer justificação que não seja a própria guerra.

Filho legítimo da fundação da ONU, o Estado de Israel fecha um ciclo. Surgido como resposta ao suposto holocausto e como movimento sionista [estabelecimento de uma comunidade autônoma judaica], o Estado policial de Israel trata hoje de pôr um fim na ONU, cometendo um parricídio sem dó nem piedade. Abrindo uma página nebulosa e desconhecida da história. Não é à toa que tenha vindo logo após uma crise que nem os mais estudiosos marxistas ou economistas conseguiram ler, quando muito voltaram aos velhos óculos das décadas de 1920 e 30.

A ONU nasce como um poder transnacional/supranacional, acima das nações e além delas, com o objetivo de promover a paz perpétua mundial, antigo objetivo que fundou a Europa. Esse, ao menos, era o objetivo expresso. Por debaixo do pano, sempre houve sangue derramado. A ONU sempre esteve em situação de xeque e, como um jogador que já antevê sua derrota, escolheu perder peças com o único fim de adiar um acontecimento inevitável. A atual ofensiva de Israel, sem nenhum motivo subjacente sólido, tendo como objetivo instituições democráticas do Hamas, objetivando claramente uma dissolução material da democracia frágil daquela região, é o xeque-mate na ONU.

O que virá agora é uma grande incógnita. É uma pena que se tenha perdido qualquer espaço de conexão das transformações históricas, o devir dos acontecimentos, e as conversas, os debates.

1 comment:

João Paulo said...

Kant errou em promover a idéia de que uma organização de mutualismo mundial poderia assegurar a paz do globo?