Arte-vida, arte-vômito: deglutição do real como totalidade. (Mário Jorge)

Tuesday, July 07, 2009

A pós-modernismofobia

"Quaisquer que sejam as vicissitudes do presente, um capitalismo pós-moderno exige necessariamente que se lhe contraponha um marxismo pós-moderno"

(Frederic Jameson)

P. 01 – A pós-modernismofobia.


A pós-modernismofobia é uma síndrome, isto é, um conjunto de sinais e sintomas específicos, que assola o pensamento atual, sobretudo da esquerda, mas também a direita sofre desse distúrbio. Em linhas gerais, o sujeito é acometido por uma forte fobia quando qualquer coisa relacionado ao pós-modernismo aparece no seu campo cognitivo. Reações comuns são: agressividade, rotulação, estigmatização, indiferença e violência. O principal mecanismo de defesa dessa síndrome é a evitação, ou seja, o afastar-se do objeto fóbico. 

P.1.2. – Sintomas 

i. tudo o que feio ou mal se torna pós-modernismo;

ii. argumentação não consistente e teatralização do discurso; ou seja, o pós-modernismo não é conceituado mas, em contrapartida, é encenado, criando-se uma caricatura pós-moderna risível e ridícula;

iii. o pós-modernismo é um álibi para afirmações de cunho pessoal; então ora ele é acusado de festejar a pluralidade abstrata (multi-identidades, no caso da direita), ora ele é usado como fantoche reacionário (relativismo infantil, segundo a esquerda). 

P.1.3 – Tipos

i. Paranóide

A pós-modernismofobia paranóide consiste em dizer que o pós-modernismo é tudo aquilo que convém no momento do discurso. Então o pós-modernismo pode dizer ora que tudo vale e ora que nada existe. Para o paranóide-pós-modernismofóbico a pós-modernidade é uma praga que se espalha continuamente e é, assim, culpada por uma série de males. Alguns delírios podem advir e achar que existe um vendaval pós-moderno que pode levar tudo e todos. 

ii. Desorganizado

Discurso desorganizado, comportamento desorganizado e afeto embotado ou inadequado. O discurso desorganizado pode ser acompanhado por atitudes tolas e risos sem relação adequada com o conteúdo do discurso, além de trejeitos faciais. Geralmente são ativos, mas de um modo desprovido de propósito, não-construtivo. 

iii. Catatônico

O pós-modernismofóbico catatônico é aquele que não diz uma palavra sobre a pós-modernidade a não ser proferir frases que possuem essa matriz: “isso não serve”. 

P.1.4 – Tratamentos

É indicado para qualquer sujeito que esteja sofrendo dessa patologia a leitura de muitos livros, bem como o conhecimento embasado das obras de Michel Foucault, Gilles Deleuze, Félix Guattari, Antônio Negri, Michael Hardt, Slavoj Zizek, John Holloway, dentre outros. Entender o que é o pós-modernismo, como demonstram várias pesquisas, pode ajudar e muito a diminuir a tensão frente ao objeto fóbico. Se obtiver êxito, o sujeito deve, como segundo passo, seguido do entendimento do que é pós-modernismo, argumentar e conceituar com outras pessoas com fins de conversa produtiva e aprendizado em conjunto. 

Para os da esquerda, conhecer genealogicamente o saber marxista também é um tratamento tiro e queda. Leia-se a Escola de Franfkurt demoradamente. Se não tiver efeito, a leitura de alguns livros de Nietzsche também podem ajudar como tratamento de choque. 

Para os da direita, começar a levar menos a sério as afirmações de Jean Piaget, Alan Sokal e Jean Bricmont podem ajudar a diminuir o delírio paranóico. 

Os trabalhos de Frederic Jameson, Terry Eagleton e David harvey juntos formam uma excelente e eficaz forma medicamentosa a essa patologia. 

A OMS declarou recentemente que a pós-modernismofobia já é considerada uma pandemia, cujos territórios mais afetados são as Instituições de Ensino Superior. Todo cuidado é pouco.

P.1.5 - Recomendações

Nunca exija de um pós-modernismofóbico uma conceituação clara, concisa e objetiva, o resultado disso pode ser a agudização do quadro, levando a reações desqualificantes e psicóticas, com junções de argumentos sem sentido. Portanto, sua aproximação deve ser branda e sempre acolhedora. A pós-modernismofobia não mata o sujeito, mas mata o pensamento. Tome cuidado!

O Krítica.

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